ENTREVISTA
Nesta edição temos o enorme prazer de estarmos com
Bemvindo Sequeira
MT – Como foi o início de sua carreira?
BS- Comecei em teatro em 1966, formando um grupo no Rio de Janeiro com os também estreantes Gonzaguinha (Luiz Gonzaga Jr.) e Reinaldo Gonzaga. Era a ditadura militar e o objetivo era mais conscientizar platéias jovens como nós, que propriamente fazer teatro. Resistir à ditadura.
MT – Como se descobriu um artista?
BS -No dia em que estreamos. Eu nem imaginava que seria tão aplaudido e que teria tão boas críticas e apreciações ao meu trabalho.
MT - Foi difícil?
BS -Não. Porque eu era jovem, e para os jovens tudo vai passando depressa e de forma fácil. Além do mais, acredito que era meu destino e dom, portanto entrei na onda certa no Astral (risos).
MT – Acha importante a escola de Teatro para a formação de um ator?
BS – Acho sim, muito importante. Eu, por exemplo, não tive escola. Me fiz sozinho e até hoje fico defasado com tantas coisas que se aprende na iniciação escolar que eu não sei e tenho que correr atrás. Mas, vale lembrar que a escola não empresta talento a ninguém.
MT – O que você diria para um jovem que deseja ingressar na carreira artística?
BS – Entre para uma escola. Escolha qual mídia deseja mais: teatro, tv, etc,etc. e prepare-se para ter sobretudo vocação (vontade) de ferro para persistir anos após anos, derrotas após derrotas. Só os que admitem as derrotas são vitoriosos.
MT – Pra você que faz teatro, quais são as dificuldades atuais? Menos patrocínio?
BS – Se lermos as biografias de João Caetano (séc 19), Correia Vasquez (séc 19), Apolônia Pinto (séc 19/20), Procópio Ferreira (séc 20) e de tantos outros que já se foram, veremos que as dificuldades são as mesmas. Falta de atenção por parte dos governantes, falta de política cultural, falta de formação e informação, falta de público, falta de divulgação, etc etc etc...
MT – Que saída você vê para incrementar o teatro?
BS – Teatro é como a peste, dizia Artaud. Ele vai e volta, e quando você pensa que ele acabou, volta mais forte. São tantas saídas... , mas sobretudo precisamos de mais entradas (risos).
MT – Você é mais conhecido como ator cômico, isso o incomoda?
BS – De maneira alguma, tenho o maior orgulho disto. O Riso é antisistema por excelência. O Riso forma ao lado do Caos, da Morte, do Nada e de Deus. Para o sistema o Riso, como Deus, a Morte e o Caos não existem em lugar nenhum porque o sistema não consegue explicá-los. Fico ainda mais feliz ao perceber portanto que o Riso que provoco na platéia é a manifestação da Divindade, do Caos Universal e C ósmico, da Revolução e da Revelação.
MT – O que você acha da TV?
BS – Acho legal. Adoro fazer e ver.
MT – Como seria a TV ideal?
BS - A que não fizesse tanto barulho dentro de casa (risos), a que você pudesse assistir sem gritaria, e na sua intimidade.
MT – Como você está vendo a atual fase do cinema Brasileiro?
BS - Agora então com a eleição do Lula parece que vai melhorar ainda mais. Isto significa trabalho para todos nós e mais criatividade ainda.
MT – Nesse momento o que você está fazendo e quais seus projetos para 2003?
BS - Neste momento estou em cartaz no Rio de Janeiro com "O Doente Imaginário" de Moliére. Tradução e adaptação minhas, vocês podem acessar em http://sites.uol.com.br/doenteimaginario, e estou dirigindo uma tragédia com 15 atores para estrear em janeiro no Teatro Gláucio Gil - Antígona, o Nordeste quer falar - da Gisa Gonsiorowski. Para 2003 além de trabalhar em tv e cinema, e de tocar mais e mais o Moliére produzido em 2002 numa tournée pelo Brasil, pretendo dar inicio a uma Oficina de Atores que culminará com a montagem de "Candido - O Otimista " de Voltaire, que estou traduzindo e adaptando para teatro e que pretendo dirigir.
MT – Algum personagem ou trabalho que não fez e ainda gostaria de fazer?
BS - Ah muitos, de Moliére; de Shakespeare, de Ben Jonson, de Martins Penna, os protagonistas das comédias destes autores por exemplo.
MT – Qual o trabalho que você mais gostou de realizar?
BS - Na TV foi o "Bafo de Bode" da Tieta, e o "Zebedeu" de Mandacaru. No teatro o mendigo de "Deus Lhe Pague" e este "Argan" de "O Doente Imaginário".
MT – Nesse novo milênio, América do Sul/Brasil, qual a função de um ator a seu ver?
BS - Ritualística, sacerdotal, tornar-se mais que nunca médium da obra artística.
MT – Rapidinhas:
BS - Signo – Leão,
Crença- No Cristo e em Deus,
Livro –100 anos de solidão,
Programa de TV – Os filmes do canal Classic da NET,
O que ou quem você deletaria ? hahahahahahaha deletaria esta montanha de senhas e códigos que a gente tem que decorar pra acessar o mundo moderno
O que ou quem você aplaudiria? o Dalai Lama
Medo - de avião, pavor.
MT - Se o tal gênio da lâmpada lhe concedesse um desejo, qual seria?
BV -Que o Espírito Santo inspirasse George Bush e desse a ele bondade, generosidade e divindade.
Bemvindo com Suely Franco em "O Doente imaginário"