Series de tv
Foi
no início dos anos 60 que a rede americana ABC mostrou interesse em um seriado
que tivesse como tema central um super-herói. Os executivos queriam atrair
crianças com a nova série, mas sem deixar de lado adultos que liam gibis quando
eram pimpolhos no final dos anos 30. Depois de muita procura chegaram num
personagem cujo direitos autorais não eram tão elevados e que tornaria o projeto
viável: Batman, o Homem-Morcego.
A Fox foi o estúdio responsável pela produção da série e convocou William Dozier
e Howie Horwitz para o trabalho. Eles optaram por trazer Batman à telinha sem
esquecer o estilo que tornou o herói um sucesso nas histórias em quadrinhos. A
televisão em cores estava se tornando uma realidade nos lares americanos, e
Batman deveria explorar ao máximo o colorido vibrante. O papel de Bruce Wayne/Batman
foi cair nas mãos do novato Adam West, o preferido de Dozier, depois de testes
com vários outros atores.
Depois de vários testes, o papel de Robin/Dick Grayson ficou para Burt Ward, um
estudante prestes a completar 20 anos, que fazia bico numa imobiliária sem a
menor experiência em dramaturgia. Mas sua semelhança com o menino prodígio dos
quadrinhos e o fato de saber lutas marciais foram de grande ajuda para que
conseguisse o papel. O ator Alan Napier foi a primeira opção para interpretar o
mordomo Alfred, e Madge Blake foi convidada para fazer o papel de Tia Harriet.
Esta personagem não existia nos quadrinhos e foi a forma
encontrada para tentar fazer com que o público não achasse que Batman e Robin
fossem homossexuais. O que, de fato, não adiantava muito... Afinal, desde os
primórdios, a pergunta sobre qual o interesse de um playboy solitário em criar
um garoto órfão pairava sobre os fãs das histórias do herói, por mais
politicamente correto que fosse.
Ao contrário de Alfred, tia Harriet não sabia que Bruce e Dick eram, na verdade,
os paladinos da Justiça, o que dava um certo clima de gato e rato... Para
completar o elenco fixo foram contratados ainda Neil Hamilton e Stafford Repp,
respectivamente o comissário Gordon e o Chefe O'Hara. Cabia ao comissário de
polícia avisar ao Homem-Morcego quando o herói deveria entrar em ação para
defender Gothan City de algum vilão. O chamado era feito pelo bat-sinal ou, como
era mais freqüente, pelo bat-fone.
O roteiro ficou sob a responsabilidade de Leonard Semple e o primeiro episódio
de Batman foi ao ar em 12 de janeiro de 1966. Para a estréia, a ABC promoveu uma
campanha publicitária fantástica que fez com que a série ficasse entre as dez
primeiras colocadas em audiência em seu primeiro ano. O cenário de Batman era
superior ao dos seriados da época. Além de utilizar a cidade cenográfica da Fox,
alguns dos prédios foram criados especialmente para o programa, como a fachada
da chefatura de polícia. A própria batcaverna tinha um certo ar imponente,
recheada de equipamentos e radares - moderníssimos para os anos 60 -, com
estacionamento circular para o batmovel, que dispensava manobras. Aliás, foram
construídos cinco carros para o herói, que existem até hoje e estão nas mãos de
colecionadores. As tomadas aéreas, como a saída do batmóvel da batcaverna, eram
freqüentes, como também as da cidade de Gothan City. A mansão Wayne também tinha
certo requinte, apesar de aparecerem apenas a sala e o estúdio onde ficava o
bat-fone. Neste estúdio havia o busto de William Shakespeare, onde Bruce Wayne
acionava a estante secreta que mostrava a passagem para a batcaverna. Em alguns
episódios, aparecem ainda o batcóptero, a bat-lancha e a bat-moto com o sidecar.
O elenco de vilões
de Batman merece destaque. As crianças da época não tinham idéia de que atores
do quilate de Vicent Price (Cabeça de Ovo), Cesar Romero (Coringa) e Burguess
Meredith (Pingüim) interpretavam os bandidos que tiravam o sossego dos moradores
de Gothan City. O primeiro episódio trouxe o Charada na pele de Frank Gorshin (o
vilão também foi interpretado por John Ashin). Julie Newmar foi a intérprete
mais famosa da Mulher-Gato. Com um corpo escultural de fazer inveja a muitas
mulheres da época, a vilã esbanjava sensualidade e sempre dava a entender que
queria algo mais com o Homem-Morcego e, às vezes, até chegava a balançar o
coração do herói. Mas como o senso de justiça falava mais alto, Batman não
chegava a ser persuadido pelas investidas da Mulher-Gato. Por estar ocupada em
outras produções, Julie foi substituída por outras duas atrizes no papel da
vilã.
Coringa foi o vilão que marcou mais presença no seriado. Interpretado por Cesar
Romero, a única exigência do ator foi manter seu indefectível bigode que pode
ser observado pelos mais atentos debaixo da maquiagem branca do vilão. Por falar
em maquiagem, um que tinha horror a ela era Vicent Price, o Cabeça de Ovo, que
era obrigado a usar careca plástica para esconder os cabelos.
Burguess Meredith (mais conhecido como o velhinho que treinou Sylvester Stallone
no filme Rocky) criou o jeito anasalado de falar do Pingüim. Na verdade, um
forma para disfarçar o pigarro por causa da fumaça provocada pela piteira do
vilão. Outro criminoso hilário era o Rei Tut, interpretado por Victor Buono, um
professor universitário de arqueologia que perdeu a memória quando levou uma
pancada na cabeça e acabou se tornando um vilão que pensava ser um rei do antigo
Egito.
Participar de Batman se tornou um must na época. O sucesso foi tanto que,
durante o primeiro ano do seriado, astros como Frank Sinatra, Elizabeth Taylor,
Clint Eastwood e Kim Novak, entre muitos outros, ligavam ou mesmo apareciam sem
mais nem menos no estúdio para que tivessem a chance de participar do episódio.
E como não dava para transformar cada convidado em vilão, um jeitinho original
foi criado para encaixar os famosos na série: toda vez que Batman e Robin tinham
que pegar os bandidos de surpresa em algum esconderijo, eles jamais usavam a
porta da frente, muito menos escadas ou elevadores. Herói tem que sofrer. Para
isso, nada melhor do que subir vinte andares pelo lado de fora do prédio com o
auxílio da bat-corda! E durante a escalada dos justiceiros alpinistas, uma
janela do prédio sempre se abria e um astro hollywodiano dava o ar da graça.
Entre os que interpelaram os heróis estavam Jerry Lewis, Sammy Davis Jr. e Dick
Clark.
No início o seriado tinha 50 minutos de duração e ia ao ar sempre dois dias por
semana nos Estados Unidos. Ao final de cada episódio, Batman e Robin se
encontravam nas piores enrascadas. As armadilhas eram mirabolantes. Por vezes a
Dupla Dinâmica era amarrada numa corda prontinha para ir direto para um tanque
de ácido. Ou era presa em uma catapulta gigante no terraço de um prédio, onde a
corda que os segurava deveria ser queimada pelos raios do sol que atravessavam
uma lente de aumento gigante. O pior é que nesse episódio eles foram salvos por
nada menos do que... um eclipse!
Batman tinha um cinto de utilidades de fazer inveja a qualquer escoteiro por
mais prevenido que fosse. Estava preso em uma sala? Que tal o bat-laser? Pronto
a ser esmigalhado numa engrenagem gigante? Nada como uma bat-chave para
degringolar a geringonça. E o bat-fone portátil? Batman tinha um em 66, quase 30
anos antes do celular. As lutas? Bom, as lutas eram uma diversão à parte. As
cenas eram brindadas com onomatopéias que tomavam toda a telinha, tipo POOF!!!
BOW!!! PIFF!, e deixavam a garotada mais do que empolgada. Detalhe: as
palavrinhas só apareciam quando os heróis estavam prestes a ganhar a luta.
Quando perdiam (para serem capturados) os "sons" da pancadaria não apareciam.
O melhor de tudo era que, além do perigo em que a Dupla Dinâmica se metia, o
final do seriado contava ainda com uma narração de dar nos nervos feita pelo
locutor (que no original era lida pelo próprio produtor William Dozier), onde os
'últimos momentos' de Batman e Robin eram narrados. Algo do tipo: "E agora
Batman? E agora Menino-Prodígio? Será mesmo o fim dos nossos heróis?! Não percam
o próximo episódio nesta mesma bat-hora, neste mesmo bat-canal". O jeito era
esperar...mesmo tendo certeza que tudo ia dar certo...a questão era: como eles
iam escapar dessa?
Inexplicavelmente a audiência de Batman não foi bem durante a segunda temporada,
em 1967, o que fez com que a ABC pedisse à Fox para cortar os episódios pela
metade. Com a duração de 25 minutos, as exibições se restringiram a uma vez por
semana. Foi no terceiro ano que um novo personagem surgiu para dar impulso à
série: a Batgirl.
A atriz e bailarina Yvonne Graig conseguiu o papel da bibliotecária Barbara
Gordon, filha do comissário Gordon, que aparecia na hora H como Batgirl para dar
uma mãozinha à Dupla Dinâmica. O intuito era atrair o público masculino para a
frente da tevê. O plano inicial de Dozier era criar uma série exclusiva para a
Batgirl mas, com a queda da audiência, acharam melhor usá-la como reforço no
seriado do Homem-Morcego. No início até que deu certo. Batgirl não tinha uma
batcaverna como os heróis titulares. Usava seu próprio apartamento onde, atrás
de uma penteadeira giratória, escondia seu uniforme e os apetrechos contra o
crime. Além disso, possuía uma bat-moto. Na dublagem brasileira, a moto virou
bat-lambreta.
Vários problemas apareceram no decorrer da série. Adam West tinha certa
necessidade de aparecer e muito ciúme de Burt Ward, que era preferido pelas
adolescentes. Durante as gravações costumava falar mais lentamente do que o
normal para sobressair nas cenas com Ward interrompendo-o freqüentemente. Este
por sua vez- falava rápido para que impedir que West cortasse suas falas. O pior
é que toda essa picuinha ia ao ar porque muitas cenas não eram refeitas para
economizar filme. Portanto, quando víamos Batman falando pausadamente e Robin
tagarelando no melhor estilo "santo problema, Batman", muitas vezes tratava-se
de uma briga interna.
A censura também encrencou com Batman. Tudo porque o órgão genital de Burt Ward
ficava proeminente na sunga do Menino-Prodígio. O estúdio tentou disfarçar com
duas sungas, mas não adiantou. Então levaram Burt Ward ao médico para que
tomasse pílulas para diminuir o dito cujo. Ele tomou os remédios algumas vezes
mas depois se recusou, temendo "problemas futuros". A saída foi filmá-lo em
plano americano, da cintura para cima. Para se ter idéia, até o fato da dupla
dinâmica não usar cinto de segurança no batmóvel (fato que foi corrigido
posteriormente) foi motivo de represália por parte das autoridades americanas.
E apesar do reforço da singela Batgirl, a audiência de Batman continuou ladeira
abaixo. O que é difícil de entender é o motivo pelo qual a ABC pagava 65 mil
dólares por cada episódio à Fox, sendo que o estúdio gastava 75 mil para
produzir cada um deles. Com isso, o jeito foi cancelar a série para que a Fox
tivesse lucro com as reprises. Adam West tem 71 anos, ainda atua e faz pequenas
participações em seriados e filmes. Ele nunca parou de trabalhar e tornou-se
famoso depois do seriado do Homem-Morcego.
Burt Ward fez pouca coisa depois de participar de Batman. Esporadicamente
participa de pequenos filmes. Hoje, aos 55 anos e bem gorducho, é dono de uma
imobiliária.
Yvonne Craig, a Batgirl, hoje com 63 anos, também chegou a vender imóveis e hoje
participa de eventos. Ela parou de atuar no início dos anos 80, embora tenha
feito um filme em 90.
A maior parte dos vilões que davam todo o charme ao seriado já faleceu, como
Vincent Price, Cesar Romero, Burguess Meredith e Roddy McDowall. Frank Gorshin,
o Charada, ainda atua e Julie Newmar, a Mulher-Gato também participa de seriados
e recebeu uma bela homenagem no filme "Para Wong Foo, Obrigada por tudo, Julie
Newmar", com Patrick Swayze.
Batman, Robin, Batgirl, Mulher-Gato, Pingüim e Cia marcaram uma geração que
corria para a frente da tevê logo nos primeiros acordes da musiquinha de
abertura composta por Neal Hefti, que até hoje está na mente de qualquer um. E a
letra, por sua vez, se limitava a repetir o nome do herói. E mesmo que você se
lembre pouco do seriado, ela deve estar em um cantinho da sua memória.